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Qui., Mar.

Falar de Nós

Prémio Identidade contemplou projectos da memória macaense

Jorge A. H. Rangel*

O Prémio Identidade é anualmente atribuído a personalidades ou instituições que tenham contribuído de forma continuada e eficaz para a preservação e valorização da identidade macaense.

O Prémio Identidade, criado pelo Instituto Internacional de Macau (IIM), tem sido entregue desde 2003, contemplando prestigiadas personalidades e instituições. Para o ano de 2011, o júri deste prémio, constituído pelo corpo universal dos titulares dos órgãos sociais do IIM, decidiu atribuí-lo, “ex-aequo”, a dois projectos ligados à memória da comunidade, um orientado pelo Prof. Henrique António d’Assumpção, intitulado “Macanese Families”, apresentado no último Encontro das Comunidades Macaenses, realizado em Novembro/Dezembro de 2010, e o outro concebido, organizado e permanentemente actualizado e enriquecido por Rogério Passos da Luz, denominado “Projecto Memória Macaense”.

Individualidades e agremiações macaenses espalhadas pelo mundo acolheram, de forma muito positiva, esta notícia, enviando numerosas mensagens de felicitações, através das quais expressaram o seu regozijo e apoio.

Famílias Macaenses

O Prof. Henrique António d’Assumpção, mais conhecido por “Quito”, é natural de Macau e formou-se na Universidade de Adelaide (Austrália), em Engenharia Electrotécnica. Engenheiro e professor universitário, trabalhou para o governo australiano e na South Australia University, onde chefiou um centro de investigação, tendo ficado conhecido por um invento tecnológico seu, um sonar para submarinos. É “fellow” da Academia Australiana de Ciências Tecnológicas e de Engenharia e recebeu altas distinções académicas. A partir de informações que foi recolhendo de várias fontes, entre as quais a obra “Famílias Macaenses” de Jorge Forjaz, compilou na página electrónica “Macanese Families” (www.macanesefamilies.com) genealogias completas das famílias macaenses, que foi enriquecendo com elementos adicionais, de natureza cultural e histórica. Os participantes no último Encontro das Comunidades Macaenses puderam apreciar a apresentação dessa página digital numa sessão especialmente organizada para o efeito e integrada no respectivo programa. O projecto permite fazer a actualização permanente do registo das famílias macaenses, desde que a informação seja facultada ao administrador do projecto. “Existe mais nessa página electrónica do que genealogia; ali estão artigos sobre a história da comunidade macaense, cultura, culinária, patuá e mesmo peças de música e ligações a outros sítios digitais”, salientou o seu autor, que quis incutir nos leitores um sentimento de orgulho pelo património macaense, incentivar o interesse entre as novas gerações de macaenses pelas origens e raízes, ajudar a preservar registos culturais e históricos e criar condições para a continuidade deste trabalho, esperando desenvolvê-lo com a colaboração directa de um organismo académico local.

Memória Macaense

O autor do outro projecto premiado, Rogério dos Passos Dias da Luz, também nasceu em Macau, tendo, ainda jovem, emigrado para o Brasil. Em 2003, foi dos primeiros a colocar no espaço cibernético uma página dedicada a Macau, sob o título “Projecto Memória Macaense”. Segundo ele, foi uma denominação dada a uma iniciativa pessoal e independente, visando, como o próprio nome diz, preservar a memória macaense. Foi seu propósito lembrar, pela palavra e pela imagem, aquela Macau com a qual se identifica, pelas suas origens, formação, vivência familiar e amizades criadas, bem como “pela saudade que bate no peito e faz chorar na recordação de belos tempos vividos, com muitas histórias que cada macaense tem para contar”.

Este projecto assenta na verdade que um povo sem memória é um povo inexistente e um povo sem saudade é um povo sem sentimento. Seguir sempre em frente, sem olhar o passado, é matar as raízes que sustentam a eternidade de um povo.ÂÂÂ É o que as gentes de Macau espalhadas pelo mundo não desejam. Sabendo que esta tarefa cabe a cada macaense, este portal é mais um contributo — e muito relevante é ele — numa altura em que idênticas iniciativas vão surgindo, em Macau e em outros Países.  

De então para cá, Rogério da Luz tem actualizado e ampliado o espaço com fotografias de pessoas, lugares e acontecimentos, de velhos tempos e de efemérides mais recentes, constituindo-se um verdadeiro repositório da memória de muitas pessoas que viveram em Macau e quiseram manter-se a ela ligadas de alma e coração. Mais recentemente, introduziu um blogue pessoal, “Crónicas Macaenses”, e um crescente número de vídeos num site, também muito visitado pelo público, para melhor dar a conhecer Macau e os macaenses ao mundo.

Os dois projectos contemplados com o Prémio Identidade são fruto da enorme dedicação dos seus autores, sem qualquer retribuição financeira. São serviços da maior utilidade prestadas à comunidade e a Macau, merecendo o nosso aplauso.

 

Os anteriores premiados

Monsenhor Manuel Teixeira, prolífico historiador de Macau e autor de centenas de títulos publicados, cujos arquivos por ele pessoalmente mantidos ao longo de décadas ganharam relevância para trabalhos de investigação histórica, foi o primeiro contemplado com este prémio, em 2003. A decisão do júri foi tomada poucos meses antes do seu falecimento.

No ano seguinte, foi distinguido o Dr. Henrique Rodrigues de Senna Fernandes, escritor macaense, decano dos advogados de Macau e professor de gerações de jovens desta terra, que sempre o incluíram entre os seus melhores mestres. Duas das suas obras, “Amor e Dedinhos de Pé” e “Trança Feiticeira” tiveram versões cinematográficas.

Em 2005, a atenção do júri virou-se para os portugueses de Hong Kong, cuja acção foi de enorme importância para o desenvolvimento e prosperidade daquela antiga colónia britânica. Foram, assim, justamente homenageados o Comendador Arnaldo de Oliveira Sales, que ali desempenhou altos cargos públicos e associativos, além de presidir a instituições de matriz portuguesa, e o Club Lusitano, a mais emblemática dessas instituições com sede em Hong Kong, uma verdadeira casa portuguesa e casa de Macau.

O júri escolheu, em 2006, a Universidade de Macau, pelo seu papel na formação e valorização de quadros superiores e contribuição para o enriquecimento cultural do território, e o Prof. Eng.º Luís de Guimarães Lobato, prestigiada personalidade macaense residente em Portugal, onde exerceu altos cargos, entre os quais os de vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa e administrador da Fundação Calouste Gulbenkian, além de ter sido um dos fundadores da Casa de Macau e dirigente de organismos macaenses em Portugal.

Por ocasião do Encontro das Comunidades Macaenses de 2007, foi entregue o prémio à Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM), por, ao longo de mais de um século, ter contribuído para a formação da juventude macaense. Manteve em funcionamento a Escola Comercial Pedro Nolasco e tem agora a seu cargo o Jardim de Infância D. José da Costa Nunes, além de integrar a Fundação Escola Portuguesa de Macau.

A Diocese de Macau foi a contemplada seguinte, em 2008, pela exemplar acção missionária e pelo seu contributo determinante para a caracterização da singularidade de Macau, sendo também um sustentáculo fundamental da comunidade macaense, ao longo de séculos.

O prémio foi dado, em 2009, à Santa Casa da Misericórdia de Macau, a nossa mais velha e modelar instituição de solidariedade social, cuja existência se confunde com as próprias origens da cidade. O valor da sua obra de assistência e serviço social é inestimável.

A UMA — União Macaense Americana, a mais antiga organização da diáspora macaense, com sede nos Estados Unidos da América, recebeu o prémio em 2010, depois de completar cinco décadas de regular e meritória actividade.

 * Presidente do Instituto Internacional de Macau.

 Escreve neste espaço às 2asfeiras.

http://macauantigo.blogspot.pt/2010/01/uma-estoria-em-patois.html

Soldado Serafim

Serafim sãn unga soldado di nosso Exército Português qui já vem p’ra Macau
assentá praça, na Fortaleza di Monte. Unga dia, Comandanti chomá ele p’ra su
gabinete e falá assi: “Soldado Serafim, iou teng unga missão ui-di importante
p’ra vos cumpri! Sã unga carta ui-di confidencial qui iou já iscreve para o Sium
Pisidente di Leal Senado. Vos azinha-azinha vai entrega istunga carta cavá volta
mostra iou protocolo assinado. Ouvi nunca?!?” “Sim, Sium Comandanti! … Dá
licença?” …Serafim baté pala, fazê meia-volta volver, e marcha sai di gabinete
di comandante.Cá fora, Serafim tremê de mêdo... “Qui ramêde… iou nun sabi
ondi ficá Leal Senado… iou novo-novo chega como logo sabi?. Se fazâ asneira,
certamente há-di fica ferrado!” Cuza logo faze, tropa falá sã teng qui
desenrasca. Serafim pirgunta A – “Iou nom sabi”… pirgunta B “Ahnnn parece
qui…” “Ayaaa – pensa Serafim... ”vosotro todo vai chera corda-nã… Iou vai tesa
peito e onçong logo vai encontra… Macau nunca sã grandi nunca sã”? E pega su
bicicleta, descê Baixo Monte e quando chega Cinema Capitol, olá direita e olá
esquerda… mas non sabi qual lado vira… e agora?

De repenti, logo na porta di Cinema Capitol ele olá unga china acocorado, con dois cesto na châm.

Sarafimaproxima dele e falá com ar de tiro-grande – ele sã tropa, cidadán teng de
obedecer:- Ouvi, vôs sabi ondi fica Leal Senado? China non sabi português, olá
p’ra Serafim e gritá: Lá longi… lá longi! - Ahn? Qui cuza? Fica longi? E china
torna grita: Lá longi… lá longi! Sarafim torna pirgunta: Lá longi … p’ra ali? E
aponta p’ra lado di Igreja de S. Domingos…E china contiua grita: Lá longi… lá
longi! E Serafim vai anda p’ra lado de S. Domingos… mas, quando chega na
meio, ouvi china torna gritá: “Fica qui… fica qui!” Sarafim volta p’ra trás
novamente, ui-di reva, pirgunta china: “Oh pá, vos tá brinca com iou? Iou non
teng tempo p’ra bricadera, ouvi nunca?” E china torna grita: Lá longi… Lá longi
…. e cavá “Fica qui! Fica qui!”…“Ai, vôs mufino! querê brinca co tropa?” E
Pronto! Serafim perde cabeça e dá unga grandi chapada na china…China
pelêng-polông cai na chám e começa berra “Aiooohhhhhh... Kau mengháaaaaaa…
ngau sok dále genti…. quim vem acudi iou“...Na confusán chega
puliça-pau e levá tudo dois p’ra esquadra. Na esquadra, Sium Comissário Piteira
pirgunta Serafim: “Qui cuza vos dále china?” “Iou dále china porque china goza
iou” e conta tudo tin-tin por tin-tin p’ra comissário. Na fim, Comissário Piteira,
bota mang na cabeça e fala: “Ayaaaa…Vos já confundi cu co calçam já! China
nunca sãn goza vos, ele non sabi português… ele falá ele vende LARANJA e
FIGO-CÁQUI!

XXXIV Colóquio

XXVI Colóquio

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