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APRESENTAÇÃO CHRÓNICAÇORES: UMA CIRCUM-NAVEGAÇÃO DE CHRYS CHRYSTELLO

Nosso amigo Chrys parece mesmo acreditar que “navegar é preciso” e vai progredindo em sua “circum-navegação” embarcado nas palavras.

Brinda-nos com o segundo volume de sua ChrónicAçores para, como justamente observou Vasco Pereira da Costa, “construir hipóteses de cidadania cultrual, que só pode ser universalista e pancrônica” (orelha do livro).

Parece também que Chrys acredita, como Fernando Pessoa, que sua pátria está em sua língua. Fala, com certa frequeência que é um apátrida, mas vem parando, em terras lusófonas, a procurar nelas sua pátria, sua mátria, seu lar. E onde pára, este dínamo viajante se empenha em estudos da lusofonia, com projetos de tornar mais conhecida e amada sua língua materna.

Faz, como Cristóvão de Aguiar, sua Relação de Bordo, mas não dia por dia. Registra suas consideraçãoes dentro de faixas de tempo maiores, divididas em quatro tempos, quatro capítulos.

Começa por um tempo mais recente, já aportado nos Açores. No capítulo I, fala da Ilha de São Miguel e alguns autores açorianos: Dias de Melo, Cristóvão de Aguiar, José Martins Garca, Eduíno Borges Garcia, Daniel de Sá, Vasco Pereira da Costa e o angolano Eduardo Bettancourt.

Fala ainda de relações familiares, comentando visita de sua filha; fala de Lomba da Maia e comenta a devoção do Santo Cristo na Ilha.

Termina este capítulo, lembrando o Cenáculo de Antero de Quental enquanto sonha em criar também um cenáculo, idealizando os Colóquios de Lusofonia.

No capítulo II, recua para um tempo de vivências de sua infância, quando passava férias em Trás-os-Montes. Mostra-se, desde o início bastante paradoxal: nada sente relativamente ao Porto, sua cidade natal, onde passou um terço de sua vida. Abomina seu clima, não aguenta sua gente, que acha fútil de macambúzia. Afirma, em vista dito, ser australiano.

Fala de suas andanças alegres por Vimioso e pela casa da família; fala da lentidão da Estrada Nacional; chama a região de “terras do fim do mundo”.

Fala também de Eucísia, “aldeia das feiticeiras”, onde nasceram sua avó e sua mãe; revisita a história da família, “cheia de mistérios”. Aponta como local mais ativo o cemitério e relembra a apanha das amêndoas como um tempo feliz. Em Eucísia, em saudade da infância, da liberdade de suas correrias e até de um primeiro namoro bastante. Fala de andanças de judeus, aqui cristãos-novos e também de refúgio no Brasil, quando perseguidos pela Inquisição. Acusa a Inquisição de responsável por características, que aponta como  menos interessantes na personalidade portuguesa.

Sua visita à infância o leva a firmar: “As raízes não estão onde as queremos mas onde as sentimos”. Parece que isto endossa a afirmação de que é australiano.

Mais no fim deste segundo tempo Chrys se pergunta: “Começará JC a ser açoriano?”

O terceiro tempo, Capítulo III parece responder a isto. Logo no ínício arrola os terrrores do tempo presente, que assolam o século XXI, enchendo-se de consternação, de aflição. Mas logo adiante, à  página 167, escreve:

Aprendera. Não obstante  o país medíocre que abominava, alegrara-se com a nova vida, a mulher com quem empreendera nova etapa e o filho. Nestes Açores de montes e vacas alpinistas quase se convertera a uma qualquer crença para dar graças por estar vivo e sossegado neste paraíso verde. E nesta filosofia , que segue há uns anos, que o impede de lamuriar. Não se lastima da sina, dos sonhos e ambições pór realizar. Na ilha verde o solo é tão fértil que tudo nasce e se reproduz sem esforço.

E passeia, passeia pelas ilhas novamente: São Miguel, Pico, Faial. Comenta sua gastronomia; reclama pelos maus serviços prestados aos turistas. Elege Santa Maria “o espaço da tranquilidade” onde se podem regarregar as pilhas humanas. Comenta férias em outras três ilhas: Faial, 2007; São Jorge, 2008; Ilha do Pico, 2009. Nestas três últimas ilhas, sente-se tentado em ali permanecer, mas surtos de paixão por cada uma delas e preso a São Miguel, acaba por ser infiel a todas.

O quarto e último tempo, Capítulo IV, é todo ele um clamor contra as injustiças e desrespeitos impostos aos aborígenes da Austrália. Outrossim, Chrys analisa étimos e topônimos em Português Puro e Português crioulo. Mas, de minha parte, acredito que o mais importante deste último capítulo já se enuncia na frase de Martin Luther King que lhe serve de epígrafe: “Temos aprendido a voar como os pássaros, a nadar como os peixes, mas ainda não aprendemos a sensível arte de viver como irmãos.” (p. 227).

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