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Daniel de Sá, Escritor, a propósito de “ChrónicAçores: uma circum-navegação” 

IN: DI 29-04-2009

Daniel de Sá, Escritor, a propósito de “ChrónicAçores: uma Circum­navegação”(J. Chrys Chystello),

“Para os outros somos o que parecemos ser”

daniel

DANIEL DE SÁ: “Quanto mais universais forem as referências de uma pessoa, menos preconceituosa tende a ser a sua maneira de sentir o mundo à sua volta”

São de sua autoria o Prefácio e a Introdução ao livro “ChrónicAçores: uma circum­navegação” (J. Chrys Chrystello), que acaba de ser lançado. Parece ser um livro de mundividências. O que o atraiu na obra?

Mais que tudo precisamente essa caraterística de andarilho de Chrys Chrystello. Que, forçosamente, se reflete na sua maneira de ver o mundo e, por consequência, ficou plasmada na escrita. Quanto mais universais forem as referências de uma pessoa, menos preconceituosa tende a ser a sua maneira de sentir o mundo à sua volta. Seja o mundo dos grandes espaços geográficos e sociais, sejam os pequenos mundos insulares ou rurais.

O discurso da obra parece ser de síntese de culturas, com um olhar que procura compreender e integrar num todo Humano realidades tão distintas como, por exemplo, Timor e os Açores. Esse objetivo é conseguido?

Sem dúvida. O Chrys tem como paradigma cultural superior a Austrália, que é um dos países culturalmente mais “universais” que há. Lá mesmo coexistem povos praticamente da Idade da Pedra e uma sociedade científica e tecnologicamente das mais avançadas. Mas ele tem também as referências de Trás-os-Montes ou do Douro Litoral, a que há que juntar, entre outras, a experiência quase traumática do Timor ancestral e da agonia do povo de Lorosae a caminho da formação de uma pátria.

O autor, J. Chrys CHRYSTELLO, parece, ele próprio, ser o produto de uma síntese de culturas. Parece­lhe que essa construção cultural do autor tem uma importância decisiva nas perspetivas da narrativa?

Obviamente. Costuma dizer-se que quem escreve escreve-se. É difícil sair do mundo mental próprio quando se entra na aventura da escrita. É que um livro, ao contrário de nós, nem sequer é ele e a sua circunstância. O livro depende apenas

da circunstância, que é o autor.

O que pode um açoriano ganhar com a leitura desta obra? Eventualmente uma nova visão de si próprio e do seu contexto?

Sob esse ponto de vista, há várias perspetivas a considerar. Há o prazer do texto, o que é sempre importante, direi mesmo que fundamental, numa obra literária. Há a revelação de realidades que nos são pouco familiares, com destaque para a questão de Timor, que só conhecemos nas versões da comunicação social, e raramente pelas personagens do drama. E há, sim, essa visão diferente de nós mesmos. É sempre bom que tomemos consciência do que parecemos ser a olhos de estranhos (o Chrys vai-se revelando a pouco e pouco cada vez menos um estranho), porque, quer queiramos quer não, para os outros somos o que parecemos ser e não aquilo que julgamos ser.

IN: DI 29-04-2009

António Armindo Couto Apartado nº. 1.146 (Côrte-Real) 9700-047 Angra do Heroísmo Terceira -Açores

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