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ChrónicAçores uma circum-navegação vol. 2

Eduarda Fagundes escreveu em 16/12/2012:

Ao prezado amigo Chrys,

Como não tenho o talento dos poetas que em versos derramam seus sentimentos, uso os meus sentidos para dizer, em prosa, o que penso, o que hoje em dia, dizem os cientistas, é uma forma de acerto... Mas se errei, me perdoa, estou avaliando palavras...!

Terra que irmana

Tenho um amigo que é como estas ilhas, calmo na aparência, um vulcão por dentro. Há nos dois, homem e terra, um magma que os afina e irmana. Eis o que o prende aos Açores, minha terra de nascimento. O seu espírito errante, inquieto, ávido de descobertas, está na essência do português, que nasceu à beira d´água, elemento vital da matéria humana, corrente líquida que alimenta o corpo e o sonho. Está o amigo sempre à procura de tudo e...de nada. Pois o que o revigora e anima, não é a posse do elemento ou da coisa, é a alegria, a euforia que a busca lhe causa. Esta lhe aguça os sentidos, lhe faz sentir vivo e com alma. As andanças da vida o levaram a muitos lugares, a muitos feitos, ganhou muitos títulos, mas só nos Açores encontrou a liga espiritual com a Natureza que lhe faltava...

Já eu, amigo, tive um caminho diferente, filha da ilha, por séculos, tristonha, isolada, pelo peso da bruma apagada, fui, rebento, pela vida desenraizada. Transplantada para um mundo novo, onde a terra vermelha, muito antiga, tem seus componentes em pó transformados. Solo rico em ferro, há nele uma energia que puxa, que pesa, que nos prende pelo cansaço. Nestas extensas terras brasileiras, fiquei aprisionada. Tudo contribuiu. A fantasia das florestas, o calor extenuante, as longas distâncias... A necessidade de sobrevivência, nos ensinaram a andar devagar, a medir cada passo, a não dispersar energias, pois aqui cada movimento é uma graça, cada deslocamento uma epopeia. Aqui a terra é tanta que, iludidos, esquecemos que não somos nós que a temos, nós é que somos dela.

Mas vez por outra o meu espírito ancestral se agita, se rebela, é quando o corpo cansado pede sossego. Nestas horas ele reclama a bruma, a solidão do meu azórico aconchego...terra que o amigo pra si reclama.

Um abraço

 

Eduarda (Fagundes)

XXXIV Colóquio